Jeitinho brasileiro com status de política pública
30/09/11 07:45 | Joaquim Castanheira - Diretor de redação do Brasil Econômico
O governo jogou a toalha. Pelas recentes declarações de autoridades de primeiro escalão, a Copa do Mundo de 2014 ocorrerá sem que as principais obras de infraestrutura estejam concluídas.
Primeiro, foi a ministra do Planejamento, Miriam Belchior. Na semana passada, ela lançou a ideia de que fossem decretados feriados municipais nos dias de jogos de maior audiência - não para que os torcedores pudessem se dedicar às comemorações, mas, sim, para evitar o colapso no trânsito das cidades que sediarão a disputa.
Para justificar, a ministra completou: empreendimentos voltados para o transporte público não são necessários para "a operacionalização do evento". Agora, foi a vez da Infraero. Na quarta-feira, 28 de setembro, a autarquia enviou uma singela proposta para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Por que não aumentar de 34 para 50 o limite de pousos e decolagens a cada hora no Aeroporto de Congonhas durante a Copa do Mundo? Seria a medida possível para desafogar o terminal aeroportuário de maior movimento do país, já que a ampliação dos dois outros grandes aeroportos (Cumbica e Viracopos) não estaria concluída no prazo. É bom lembrar: 1.
Essa mudança interfere diretamente na segurança dos voos. 2. A redução para 34 pousos e decolagens em Congonhas ocorreu em 2007, imediatamente depois da queda do voo 3054, da TAM, quando morreram 199 pessoas.
Enfim, a declaração de duas das mais importantes autoridades do governo sinaliza que houve uma institucionalização do provisório.
O jeitinho brasileiro adquiriu o status de política pública. Mais: por que é bom um país sediar um evento dessas proporções? A resposta clássica é: porque é oportunidade única de se provocar uma revolução urbana, dotando as cidades de uma infraestrutura da qual os moradores continuariam a usufruir nas décadas seguintes. Grandes eventos como Copa do Mundo e Olimpíada deixam um legado de bem-estar inegável, quando bem aproveitados.
O exemplo citado e repetido é o de Barcelona, a cidade espanhola que não só estancou um processo de decadência urbana, como lançou as bases de modernidade que a transformaram em um dos pontos mais atraentes para turismo em todo o mundo. Para os países que não aproveitaram essa chance, restam apenas endividamento e elefantes brancos de cimento e concreto.
Pois o Brasil parece condenado ao pior dos mundos: ficar sem a herança positiva e arcar com o inferno do desperdício de dinheiro público. Não é à toa que frequentemente se lembra do caso dos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro, quando o orçamento previsto inicialmente estourou em 800%. Pergunte a qualquer um qual foi o legado daquela grande festa.
Invariavelmente, a resposta será uma só: o estádio do Engenhão, hoje sob administração do Botafogo. Será que em 2014 e 2016, minutos depois da entrega da última medalha e do derradeiro pódio, só restará em nossa memória nomes de estádios modernos e inúteis?
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Joaquim Castanheira é diretor de redação do Brasil Econômico
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