quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Algumas previsões econômicas que foram levadas a debate nos últimos anos e que foram solenemente ignoradas por decisores nacionais revelam-se a cada dia mais verdadeiras, e o fato de terem sido ignoradas seguramente causou que a nação tenha desperdiçado muitas oportunidades de desenvolvimento:

1) Uma das mais importantes oportunidades desperdiçadas foi a ALCA. Na ocasião, poder-se-ia ter adotado uma série de posições, mesmo que não de adesão total ao acordo. Mas não foi o que foi feito. O país, mesmo sem explicitar, adotou, em relação à proposta americana de acordo de comércio, posição semelhante à adotada pelo ditador venezuelano (ALCA ao impublicável!!!).

Hoje em dia, vários países do Pacto Andino, refiro-me especificamente a Chile, Colômbia e Peru, que estreitaram seus relacionamentos comerciais (e mesmo de outras naturezas) com a potência americana, CRESCEM A TAXAS SUPERIORES À TAXA BRASILEIRA. A Colômbia inclusive, mesmo ainda em meio a uma quase guerra civil, está, neste 2010, ultrapassando a Argentina como a segunda economia sulamericana. O Chile, mesmo ainda se recuperando de devastador terremoto, também cresce mais, e consequentemente gera mais empregos e renda, em termos proporcionais, claro.

Vários países da América Central crescem também a taxas elevadas, inclusive a Costa Rica, que ganhou fábrica da Intel que poderia ter vindo pro Brasil, graças ao nível mais preparado de sua mão-de-obra e a um ambiente institucional também mais favorável. Mesmo o México, que sofreu bastante quando da crise americana de 2008, já se recuperou e, mesmo com a economia yankee se recuperando devagar, cresce novamente a taxas elevadas.

Em troca, o Brasil concordou com a entrada da Venezuela no Mercosul, ignorando a cláusula democrática do acordo. É de se lembrar que a economia venezuelana, graças ao tal "socialismo bolivariano do século XXI" ora em implantação naquele país, tem sido bastante prejudicada e está em severa recessão de 3% a.a., há já 2 anos, e com sabida tendencia de piora. O Mercosul, cujas limitações são conhecidas, terá de carregar mais esse fardo político e econômico, enquanto as economias da América Central e do Pacto Andino avançam a galope.

2) O Brasil tornou-se há alguns poucos anos, um dos poucos, senão o único, países a reconhecer a economia chinesa como economia de mercado. Tal decisão em muito vem facilitando a penetração dos produtos chineses no mercado brasileiro, em detrimento da nossa indústria. Mesmo outros mercados outrora explorados pelos produtos brasileiros, como acontecia na Àfrica e América do Sul, vêm sendo invadidos e dominados pelos chineses, nos gerando perdas sucessivas.

Por exemplo, dos 42 navios já encomendados pela Petrobras junto aos estaleiros nacionais pra trabalharem no chamado Pré-Sal, todos, repito, TODOS, serão construídos com aço produzido na China; aço esse por sua vez feito a partir de minério de ferro comprado junto à VALE, que sai do país, vai ser processado na China e volta como aço melhor e mais barato que o aqui produzido.

Esse êrro já é inclusive reconhecido e os responsáveis por tal decisão se arrependem, mas nada fazem a respeito.

3) Desde já vários anos o país foi colocado em rota de crescimento econômico. Crescimento, muito mais que desenvolvimento. Bolsa Família, crédito consignado, aumentos significativos do salário mínimo, facilitação e expansão do crédito em geral e em particular pelos bancos públicos, etc, todos muito justos, mas desacompanhados de série de correspondentes medidas nos campos da produção e da educação.

A falta de adequados estímulos (via criação de ambiente econômico mais favorável, leia-se reformas econômicas que não foram encetadas nas áreas trabalhista, previdenciária, etc, privatizações - ao contrário, voltou a crescente estatização - concessões, enfim...) à produção, a redistribuição de renda e o inchaço do crédito levaram a que o crescimento do país esteja ocorrendo pelo lado do consumo, que a indústria, mesmo crescendo bastante, não consegue acompanhar.

A consequencia é o ínício de problemas com o balanço de pagamentos, cujo déficit acabará tendo que ser coberto pelas reservas e que, se se tornar rotineiro, pode vir a se tornar problema da maior gravidade.

Se observarmos as curvas que representam o crescimento do PIB nacional nos últimos anos e a que representa o crescimento do crédito, veremos que a primeira é facilmente explicada pela segunda.

O crescimento, desse modo, dá-se de forma desequilibrada e insustentável a curto e longo prazos.

O endividamento das famílias é crescente e do mesmo vem falando com ênfase o crescente índice de inadimplencia. Vale notar que a crise americana de 2008 aconteceu justamente pelo endividamento excessivo dos consumidores, que, a certa altura, não conseguiram mais saldar seus compromissos, iniciando a dêbacle do setor imobiliário e hipotecário que em seguida se expandiu pela economia inteira. É claro que estamos ainda longe disso, mas o endividamento médio do brasileiro já mais que dobrou desde 2003 e, a continuar nesse ritmo de crescimento, pode se tornar inadministrável ainda nesta década.

A ênfase na produção de bens primários, necessários ao atendimento das necessidades das classes mais humildes, em ascensão, o relativo abandono do relacionamento com a economia mais avançada, a opção preferencial pelos países mais pobres no comércio exterior e a eterna falta de adequada atenção à educação e à qualificação da mão-de-obra, aliada ao desprezo da gestão como instrumento de progresso, fizeram com que o país venha se tornando a cada dia mais uma economia "comoditizada", fadada à produção predominante de bens padronizados e portanto de pouco valor agregado.

Há alguns anos a pauta das exportações brasileiras mostrava a predominancia de bens manufaturados, de razoável grau tecnológico (a proporção era de 60% contra apenas 40% de produtos "básicos"). Hoje tal proporção se inverteu: 40% de produtos de valor agregado e 60% de produtos de menor valor.

Segundo declarou explicitamente o presidente do IPEA, "a China se tornou a fábrica do mundo; a Índia, o escritório do mundo, e o Brasil, a fazenda do mundo."

4) Como consequencia do descaso da importancia da gestão como instrumento de progresso, a nação perde continuamente competitividade. Competitividade é qualidade mais produtividade mais custos. Como o chamado Custo Brasil é muito grande (e mesmo crescente), já que a produtividade no Brasil é pequena (relatórios de pesquisas da MCKinsey confirmam), e a qualidade vem sendo relativamente abandonada, a competitividade nacional sofre, e há mais de duas décadas a participação brasileira no comércio mundial, a despeito de todo o crescimento do PIB e de todas as viagens ao estrangeiro pra promover o comércio, não passa de mero 1%.

A indústria (e, recentemente, a agricultura e até os serviços), além de continuamente perderem mercados no exterior, perde participação no próprio mercado interno. Os estrangeiros compram cada vez maior parcela das empresas brasileiras. Veja a atual tentativa de compra da TAM pela Lan Chile, e a entrada no país da rede de cafeterias Starbucks, etc.

Embora não esteja acontecendo desindustrialização, muito pelo contrário, a indústria cresce bastante no âmbito interno, há constante desnacionalização. E a indústria, serviços etc, cresce nos setores mais tradicionais, mais comoditizados, em vez de nos mais avançados.

5) Os decisores optaram por fazer a maior empresa do país, orgulho nacional, empreender um projeto que nos parece desde o início destinado ao fracasso. Desde fins de 2007, quando a Petrobras Abastecimento recebia seu primeiro Prêmio Nacional da Qualidade, vem aquela empresa fazendo sucessivos anúncios de descobertas no que convencionou denominar "Pré-Sal".

A despeito de todas as tendencias internacionais apontarem ao ocaso da indústria petrolífera, e a demanda de petróleo no mundo vir caindo, a empresa vem sendo levada a investir várias centenas de bilhões de dólares visando extrair petróleo sob lâminas dágua superiores a 5.000 metros.
Para isso, a empresa vem sendo levada a se endividar a ponto de agencias de classificação de risco pensarem em rebaixar sua classificação de risco.

A empresa também arcará com os riscos de algum acidente ambiental, que, principalmente depois do que ocorreu com a British Petroleum no Golfo do México, parece cada vez mais provável. Notícias sucessivas dão conta do mau estado de conservação de muitas plataformas de exploração da Petrobras, tendo sido várias delas interditadas em seguida pela própria empresa.

E além do risco de endividamento excessivo, dos riscos ambientais com os quais ainda não se sabe lidar a uma profundidade às vezes de até 7 km, há o que avalio como o mais provável de todos: o risco na comercialização.

Tais campos e poços, pelo inédito grau de dificuldade de exploração que apresentam, tendem a necessitar de muito tempo pra começarem a gerar volume de produção compensador. Tempo estimado em quase uma década.

E até lá, qual será a importancia e o preço do petróleo? Notícia após notícia mostram que o mundo já emprega mais pessoas nas energias renováveis (biomassa, solar e eólica) que no setor de petróleo e gás, que a demanda de petróleo está e tende a permanecer em queda e que muitos novos campos produtores de petróleo estão entrando e/ou por entrar em operação.

Aumento constante de oferta e redução contínua de demanda (por redução de consumo e substituição cada vez mais intensa) são receitas certas pra queda do preço.

Por outro lado, devido às suas intrínsecas dificuldades de exploração o petróleo a ser gerado pelo "Pré-Sal" tende a ter custos e preços relativamente elevados.

De modo que, daqui a muitos anos, quando a Petrobras estiver produzindo comercialmente no "Pré-Sal", tende a não conseguir compradores ao preço necessário pra honrar os custos de exploração, financiamento e outros de tão arriscado projeto.

Enquanto isso, não se verificam investimentos em energias solar e eólica. O país investe pesadamente pra "sujar" sua matriz energética, pra ser visto como país incentivador da poluição e do aquecimento global.

Mais: como já se sabe, mesmo a energia solar, a de mais cara geração, já produz energia a custos equivalentes aos custos de geração de energia elétrica por parte de termelétricas.

A Dinamarca já produz toda a energia de que precisa via ventos. A Alemanha tem desativado usinas nucleares, substituídas por células fotovoltaicas instaladas nos telhados das residencias; carros híbridos batem recordes de venda pelo mundo afora; todas as indústrias automobilísticas estão por lançar carros totalmente elétricos; a China já lançou um e dezenas estão previstos, no mundo desenvolvido, pra os próximos meses. Até Portugal já está lançando uma rede nacional de postos pra carros elétricos.

Os EUA já produziam, só de milho pra produção de etanol, em 2006, mais que o dobro de toda a safra brasileira de todos os grãos, enfim, o petróleo não vai acabar tão cedo, mas a diminuição de sua importancia na matriz energética mundial é certa, reconhecida e aceita pela própria OPEP e pelos próprios analistas da indústria petrolífera e já começa a acontecer.

Novamente, o Brasil na contramão da história.


Todas essas decisões, e muitas outras que podem ser apontadas por uma avaliação mais minuciosa, apontam pra uma série de erros de estratégia de gestão que desperdiçou muitas oportunidades de elevar o crescimento e/ou o desenvolvimento brasileiros a seu verdadeiro potencial.

Talvez expliquem por que a oitava economia do mundo em 2002 continua oitava economia em 2010 e chegara a nona, só voltou a oitava neste ano, graças ao fiasco da economia espanhola, das pouquíssimas ainda em recessão, o que fez com que a Espanha caísse no ranking.

Alguns deles (os erros) correspondem na verdade a "pepinos" a serem descascados nos próximos anos.


Uma avaliação mais focada no ambiente interno brasileiro só pretendo fazer daqui a mais de ano, porque:

- o noticiário nacional já é claramente manipulado (e temo que evolua à semelhança do que aconteceu na Venezuela)

- só será possível ter uma noção minimamente adequada à avaliação dos fatos em andamento neste 2010 naquela ocasião.

Muito grato,

abraço,

José Carlos
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"Só há uma forma de aumentar a riqueza de uma nação, e é treinar e desenvolver as pessoas o tempo todo" - Edson de Godoy Bueno, Presidente da AMIL - Assistência Médica Internacional Ltda.

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