sábado, 23 de outubro de 2010

21/10/2010 - 18:50 - Antonio Machado
A análise simplista sobre as ações do governo para tentar conter a avalancha de dólares rumo ao país - e, assim, a valorização do real - toma o enunciado como o todo e omite as partes que compõem a intenção.
Se a Selic estivesse em linha com os juros das economias ricas, hoje de 0 a 2% ao ano, o país só atrairia o interesse do capital genuinamente cativado pelo potencial da economia brasileira.
A Selic supera seus equivalentes nos EUA, na zona do euro e Japão não por imperícia do BC, mas porque a demanda doméstica, antes e depois da crise, corre a um ritmo acima do que a produção interna é capaz de absorver, gerando o vazamento de consumo atendido por importações. (os sublinhados são sempre meus)
Aos poucos, a partir de 2006, antes que houvesse crise global, os superávits da balança comercial começaram a encolher, resultado de importações crescentes e exportações evoluindo a passo menor – e isso não bem por falta de demanda externa e mais pelo consumo aqui mesmo de produção potencialmente exportável. Ai está o imbróglio.
Tal tendência virou o superávit das contas externas consolidadas, panorama vigente entre 2003 e 2007, em déficits crescentes de 2008 em diante. O superávit comercial caiu de US$ 46,5 bilhões em 2006 para previstos US$ 18 (U$ 15) bilhões este ano.
E o saldo do consolidado das contas externas saiu de superávit de US$ 13,6 bilhões em 2006 para déficits, que vão a US$ 49,5 bilhões este ano, a projeção da Fazenda, ou a mais de US$ 51 bilhões, segundo outras fontes.
Isso antes de os EUA anunciarem a emissão de dólares como maneira de estimular sua economia, reduzir importações e incentivar suas exportações. Já há quem preveja mais de U$ 80 bi de déficit no balanço de pagamentos em 2011.
Essa é a grande preocupação: como financiá-los sem risco, já que a crise voltou ao mundo, e com qual qualidade. Investimento direto de multinacionais é superior, porque estável, entra para ficar. Já o hot money financeiro procura papéis da dívida pública e ações, e chega sem desfazer a mala. A qualquer ruído, cai fora.
Sem agravamento da crise externa, havia o consenso de que déficit na faixa de até 3% do PIB, estando hoje pouco acima de 2,5% e com tendência de passar de 3% ano que vem, é financiável sem dor. Mas seria de alto risco com a rebordosa das grandes economias globais.
Mas, O mundo está outra vez pisando em falso. EUA vão para a emissão de dólares para tentar injetar oxigênio no consumo interno e para enfraquecer ainda mais a moeda e empurrar as exportações. A China, a única economia de porte a manter-se aquecida, aumentou os juros, temerosa da inflação.
Com a economia japonesa virtualmente parada, Alemanha projetando redução do crescimento industrial de 12% este ano para 4% em 2011, Inglaterra anunciando cortes fiscais que vão implicar a demissão de 500 mil funcionários públicos, a França assediada por greves e protestos contra a reforma da Previdência. Elas são as potências econômicas do mundo. Se apertam o cinto, não sobra para ninguém.
No Brasil, está assim: há alguns meses o déficit externo é zerado com hot money. O investimento direto das multis, que sempre cobriu as necessidades de financiamento, já não basta e não deve ir muito além. A vulnerabilidade externa começa a bater à porta. O governo diz que quer fechá-la para o hot money. Legal. Mas vai ter também de esfriar o consumo, hoje a chave que regula a abertura da porta.
http://www.cidadebiz.com.br/conteudo_detalhes.asp?id=53491&iduser=25270

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