terça-feira, 15 de março de 2011

Conab/IBGE projetam safras recordes – Duvidamos!
Paulo Costa
www.exame.com

Após discordarem sobre a produção de grãos do país nesta safra 2010/11 nos levamentos apresentados em fevereiro, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), subordinada ao Ministério da Agricultura, e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ligado ao Ministério do Planejamento, voltaram a convergir para a tendência de mais um recorde histórico.
Segundo os novos números da Conab a colheita alcançará 154,2 milhões de toneladas, 0,7% mais que o volume projetado em fevereiro e 3,4% acima do total de 2009/10. Para o IBGE serão 151,2 milhões de toneladas, com crescimentos de 3% em relação à estimativa do mês passado e de 1,2% sobre a colheita de 2010.
Parte da grande diferença encontrada na pesquisa anterior de ambos os órgãos foi acertada com os números das “safrinhas” e produções de inverno de culturas como o milho e trigo. Outra parte veio do forte ajuste na projeção do IBGE para a produção de soja, líder do campo nacional que pouco sofreu com os efeitos do fenômeno La Niña, ao contrário do que se imaginava (dizem Conab e IBGE).
Para a Conab, o Brasil colherá 70,3 milhões de toneladas de soja na safra atual, 2,3% mais que na anterior, e o IBGE projeta a produção em 69 milhões de toneladas. Os números estão em linha com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) que prevê a safra brasileira de soja em 70 milhões de toneladas.
Fiéis a nosso pensamento anterior, temos sérias dúvidas de que estes números vão se materializar. A safra de soja em importantes regiões do Mato Grosso do Sul e do Paraná estão com sérios problemas na colheita em função das chuvas. Perdas de rendimento já estão sendo contabilizadas. Dificuldades de transporte no Mato Grosso também acarretaram quebras, podem ter certeza. As safras de inverno vão ter problemas. O plantio de milho safrinha no Paraná perdeu seu ponto ótimo de início e a própria Secretaria de Agricultura do Estado admite uma área plantada bem menor para o trigo.
Sei que hoje somos voz única. Não faz mal – estamos sendo coerentes com o que vimos no campo desde a época de plantio das safras de verão. Como as notícias chegam em Brasília com um pouco (!?) de atraso, podemos – infelizmente – estar certos. Quem viver, verá e nós, agradavelmente, daremos o braço a torcer se nossa dúvida revelar-se improcedente. Daqui a seis meses saberemos…
josé carlos fontes
Prezado Paulo: não sou especialista na área, mas também vejo com preocupação a evolução de nossa safra, e por outro motivo, talvez mais grave. Como é sabido, a FAO recentemente divulgou que, diante da crise alimentar no mundo, permanente e que tende a se agravar, à medida em que a população planetária evolui à marca dos 9 bilhões a ser atingida por volta de 2050, que dados países de certa capacidade produtiva no setor primário deveriam expandir suas produções, para que se consiga ao menos mitigar o mais urgente problema, o flagelo da fome, que atinge nada menos que 1 bilhão de seres humanos. Aquela instituição multilateral chegou a definir percentuais pra cada país citado, e no caso, ao Brasil coube o maior percentual de aumento desejado da produção: 40%, até 2019. É uma verdadeira meta imposta de fora, mas por instituição multilateral séria e respeitada, e mundialmente divulgada. O problema é que, a julgar pelo índice de evolução da safra, é possível que venhamos a não alcançar a meta, e as tuas próprias dúvidas reforçam tal possibilidade. Tal fracasso poderá vir a ser visto como descaso, ou pouco caso brasileiro para com os povos em crise alimentar. Não pode parecer indiferente, a qualquer brasileiro que seja, ser o Brasil acusado no futuro por tal desumano desmazelo. Mas não se vê qualquer movimentação no sentido da adoção de medidas que possam assegurar a consecução de tal meta agora esperada por todo o mundo. É de se notar que não se trata de caridade, mas de aumento de produção e comercialização, de riqueza, portanto. É do interesse brasileiro buscar tal meta, será duplamente benéfico ao país: mais dólares e melhor imagem. Ou seremos no futuro acusados de dar mais atenção à Copa do Mundo de Futebol que à parte que nos cabe no auxílio aos mais necessitados?
E o Brasil, quando da divulgação das metas, EM MEADOS DO ANO PASSADO, não se negou à tarefa, não veio a público declinar do honroso convite. O fato é que mesmo que o Brasil não queira, a situação está criada: o mundo convidou o Brasil para o papel de principal herói da luta planetária contra a fome, e consequentemente, pela paz. É um papel não solicitado, mas que caiu no colo. O planeta, principalmente os povos mais afetados pela fome, desde meados de 2010 conta com o Brasil, confia no Brasil pra tal tarefa. E nada vem sendo feito, já perdemos uma das safras que poderia ter colaborado pro alcance da meta, já perdemos um ano. Esse é mais um legado deixado pelo governo anterior ao atual, mais um baita problemão pro governo atual resolver: criar algum esforço adicional, alguma estrutura que colabore à viabilização da meta. Nada foi feito, perdemos um ano, dos poucos disponíveis. O Brasil precisa ficar bem nessa foto.

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