terça-feira, 28 de junho de 2011

Indústria química tem crescimento prejudicado por paralisações
Seg, 27 de Junho de 2011 14:48
A indústria química brasileira vem passando nos últimos anos por um aumento da competição com produtos importados. Além de preços mais acessíveis no mercado externo, ainda enfraquecido, as importações de químicos têm a seu favor o câmbio apreciado. Com isso, apesar do aumento da demanda doméstica (consumo aparente) em 4,2% nos primeiros quatro meses do ano em relação ao mesmo período de 2010, a produção de químicos no País está registrando queda de 5,6%, também refletindo o efeito da restrição de energia elétrica no Nordeste, que prejudicou o abastecimento de químicos básicos em toda a cadeia. Sem alterações no cenário internacional, a equipe econômcia do Bradesco acredita que a indústria nacional registrará desempenho modesto neste ano, ainda que observemos alguma melhora na produção ao longo do ano, o que resultará em expansão de 1,8% na produção em 2011.
A produção nacional de produtos químicos recuou 5,6% no acumulado deste ano (dados disponíveis até abril) em comparação ao mesmo período de 2010, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). O fraco desempenho da indústria vem ocorrendo apesar da demanda doméstica por químicos continuar crescendo, ainda que refletindo a expansão moderada da economia brasileira. A saber, o consumo aparente registrou expansão de 4,2% no ano na mesma base de comparação, ritmo mais moderado do que o verificado no último ano, mas ainda assim positivo.
Em relatório o departamento econômico do Bradesco, ressalta dois fatores que explicam o desempenho enfraquecido do setor. Primeiro a paralisação de uma central petroquímica no Polo de Camaçari (BA), devido à interrupção do fornecimento de energia no Nordeste. Dessa forma, em fevereiro a produção nacional de químicos registrou queda de 18,9% na comparação interanual. Apesar do fornecimento de energia ter sido interrompido por nove dias, a central petroquímica só foi religada quatorze dias após o início da paralisação e, mesmo após o retorno das operações, a unidade ficou pelo menos um mês operando com cerca de 70% da capacidade de produção. Além de afetar a produção de petroquímicos básicos, notadamente de eteno, e a produção de outros químicos na região3, o abastecimento da cadeia foi afetado inclusive no restante do País. Isso porque a central petroquímica de Camaçari é responsável por aproximadamente 1/3 da produção nacional de petroquímicos básicos, além de possuir diversas empresas do setor instaladas no polo.
O segundo fator, mais estrutural, está ligado à baixa competitividade da indústria nacional, o que é explicado pela utilização da nafta no processo produtivo ao invés do gás natural. Entre esses dois principais insumos para a fabricação de petroquímicos básicos, o primeiro é relativamente mais caro do que o gás natural, além de ser menos eficiente. Com custo menor, as unidades com base em gás natural oferecem preços mais atrativos e, nos últimos anos, tem-se observado o fechamento de diversas unidades baseadas em nafta localizadas notadamente na Europa e nos Estados Unidos, limitando também a expansão em outras regiões, como é o caso do Brasil.
A despeito da expansão marginal nos últimos anos, a capacidade de produção brasileira de petroquímicos básicos não é suficiente para atender a demanda local. A última planta instalada no País entrou em operação em 2005 e responde hoje por 15% da produção doméstica. Uma nova unidade está em construção, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ), que deverá entrar em operação em 2014, ampliando a capacidade de produção de eteno em 1,3 milhão de toneladas ao ano, um aumento da capacidade de 34% em relação ao ano passado6. A nova unidade terá como fonte primária o gás natural proveniente da Bacia de Campos, o que deverá torná-la mais competitiva do que as outras plantas instaladas no País; isso, juntamente como aumento da demanda interna, justifica o investimento. Esses quase dez anos sem grandes projetos de investimentos (entre 2005 e 2014), seja para novas plantas ou para a ampliação das existentes, manteve praticamente inalterada a capacidade de produção de petroquímicos básicos, ampliando a participação dos produtos importados no consumo doméstico, favorecido também pela apreciação do câmbio. Assim, o valor importado de produtos químicos passou a responder por 22,8% do consumo aparente em 2009 (último dado disponível), ante 16,1% em 2006.
Para atender o crescimento da demanda mundial por químicos na última década, os investimentos para a construção de novas unidades petroquímicas estão se concentrando nas regiões onda há excesso de gás natural, destaque para o Oriente Médio e a Ásia. Essa reestruturação é um processo de âmbito mundial, intensificado no pós-crise, mas que já vinha ocorrendo nos últimos anos, como indica o gráfico a seguir. O Oriente Médio é grande produtor de petróleo e gás natural e tem sido a região mais promissora: a capacidade instalada de eteno na região quase triplicou nos últimos 10 anos, sendo que grande parte do aumento se deu em 2010. A Arábia Saudita é o país que vem recebendo o maior incremento na expansão da capacidade do Oriente Médio, sendo responsável por mais de 50% do total.
A Ásia também deve ser citada como grande receptora dos aportes no setor, ainda porque é a região com maior capacidade de produção de eteno. Para explicitar, a capacidade produtiva na Ásia registrou expansão de 87% na última década, sendo que a China é responsável por aproximadamente 50% do acréscimo na capacidade da região.
Mais recentemente, o excesso de gás nos Estados Unidos também merece ser citado. O país está com excesso da commodity desde o final de 2010, fazendo com que diversas plantas retomem suas operações, antes paralisadas por não serem competitivas. Como os Estados Unidos é o principal provedor de produtos químicos para o Brasil, respondendo por cerca de 20% das importações do setor, o aumento da competição desse país passa a ser um fator de pressão para a indústria nacional.
Em resumo, com o mercado internacional ainda enfraquecido e com preços mais atrativos, as importações de produtos químicos continuarão ganhando importância dentro do consumo doméstico. Até porque a ausência de grandes projetos no País no curto prazo limita a expansão da capacidade instalada no setor. Incluindo a paralização não programada das unidades químicas na região Nordeste por um período considerável, apesar de pontual, não há dúvidas de que a indústria química deverá ter seu crescimento prejudicado este ano, ainda que alguma recuperação na margem seja esperada. Neste ano a indústria química de uso industrial deverá registrar aumento de 1,8%, taxa inferior ao restante da indústria, que deverá fechar o ano com aumento de 3,6%.
A indústria química brasileira, que responde por 3,2% do PIB brasileiro e por 11% da indústria total, é segmentada em três gerações. A 1ª geração é formada por quatro centrais petroquímicas, localizadas em Capuava (SP), Triunfo (RS), Duque de Caxias (RJ) e Camaçari (BA). A 2ª geração é composta pelas fabricantes de produtos intermediários e a 3ª geração pelas empresas produtoras de bens finais, como farmacêutica, embalagens e defensivos agrícolas,entre outras.
A maior parte do faturamento da indústria química, 46%, se refere à indústria de químicos para uso industrial, que inclui produtos usados na fabricação de químicos do próprio setor, segmento discutido neste estudo. Outros 36% do faturamento são provenientes de produtos farmacêuticos, higiene pessoal e adubos e fertilizantes.
Entre os químicos de uso industrial, as resinas termoplásticas ganham destaque, com 28% da produção, seguida pelos petroquímicos básicos (22%) e intermediários para fertilizantes (10%).
O setor tem uma característica cíclica, dado que os investimentos levam um período longo de maturação e, por isso, o aumento da produção ocorre periodicamente e em grandes volumes. Como a demanda não cresce na mesma proporção, há desequilíbrios entre oferta e demanda que resultam em períodos de preços elevados e períodos de margens comprimidas.
As centrais petroquímicas fazem paradas programadas para manutenção que requerem a paralisação total da planta entre 25 e 30 dias.
Ranking mundial 2010: o Brasil ocupa a 8ª colocação, com 2,7% da capacidade mundial de químicos. Japão e Coreia do Sul são os maiores produtores, com 5,5% e 5,3% da capacidade de produção, respectivamente. Por outro lado, os Estados Unidos e a China possuem o maior faturamento da indústria química, sendo responsáveis por 19,6% e 18,5%, respectivamente. Nesse ranking, o Brasil continua na 8ª colocação.
As exportações do setor somam US$ 6,95 bilhões, o que corresponde a 6,7% das exportações totais do Brasil e a 15% da produção de produtos químicos (uso industrial). Os principais produtos exportados são resinas termoplásticas.
As importações da indústria química somam US$ 11,58 bilhões, participando com 18% das importações totais brasileiras e com 23% do consumo nacional de químicos (uso industrial). Os principais produtos importados são matérias-primas para defensivos agrícolas.
(MLC - Agência IN)

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial