terça-feira, 11 de outubro de 2011

ORIGENS DA CRISE NA INDÚSTRIA por Julio Sergio 6/10/2011

Que a indústria brasileira não atravessa um bom momento, a esta altura não resta dúvida. Basta dizer que o setor de transformação não sai do lugar desde setembro de 2008, quando do agravamento da crise mundial. São três anos de produção virtualmente estagnada (-0,6%) e de queda do emprego (-1,9%) e do volume de exportações (-9,8%). O índice da produção referente a agosto dá conta de variação de -0,2% com relação a julho e aumento acumulado no ano de 1,5%.

Para uma corrente de economistas essa situação industrial não tem correspondência com a economia brasileira como um todo, mas decorre de uma crise estrutural. Nessa interpretação, a crise aparece, em primeiro lugar, somente do lado da oferta e não da demanda, que continua vigorosa, e, em segundo lugar, é exclusiva do setor industrial. Ainda que se admita a existência de um grave problema de competitividade de nosso parque industrial - não por fatores estruturais e imutáveis, como se quer fazer crer, e sim como decorrência da má aplicação das políticas de câmbio, juros, tributos e infraestrutura -, há um grande engano nessa interpretação, já que são ignoradas as relações entre oferta e demanda e entre a indústria e os demais segmentos da economia.

A economia brasileira está desacelerando devido à política fiscal, ao aumento de juros e ao controle do crédito e nada há de estranho que a indústria absorva os primeiros impactos do menor crescimento da demanda de investimento e de consumo. Isso ocorre porque em média os bens industriais têm maior valor unitário, são mais duráveis e suas vendas são mais dependentes do crédito relativamente aos serviços. Quanto aos bens da agricultura e pecuária, estes são, a princípio, mais preservados devido à sua essencialidade. Por isso, os inícios de processos de desaceleração de uma economia são exclusividade da indústria, mas isto é só uma parte do processo como um todo.

Tendo começado a desaceleração, impactando adversamente em primeira mão a produção do setor manufatureiro, seguem-se ondas sucessivas de transmissão desse impacto sobre a demanda por bens intermediários e finais, o que acaba arrastando os setores não atingidos e dos ramos industriais até então não afetados. Todo setor tem características que lhe são próprias. A indústria se notabiliza pelas suas fortes relações com ela própria e com os demais setores através das suas compras de bens intermediários necessários à produção, por meio do emprego por ela gerado e da repercussão do seu investimento na demanda dos demais setores. Um retraimento industrial reduz a demanda de bens e serviços usados para produzir bens industriais, mas também contrai o emprego e o investimento do setor industrial, o que reduz o consumo intermediário e final dos bens do próprio setor industrial, além dos setores primário e de serviços, os quais, por seu turno, podem também reduzir suas compras de outros setores, seu emprego e investimento. Por isso, não há como seccionar um setor - notadamente a indústria - como origem e fonte de uma retração que não se alastrará para o restante da economia. Em países de estrutura econômica mais complexa, como é o caso do Brasil, o retraimento industrial será, cedo ou tarde, um retraimento da economia como um todo.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial