segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Há 11 horas
Estudo liga demografia à perda de eficiência
Por Assis Moreira

A transformação demográfica no Brasil já está afetando a competitividade internacional da economia e seus efeitos se tornarão mais intensos nos próximos anos, sobretudo no setor industrial. A conclusão é de um estudo do economista Jorge Arbache, assessor da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e professor da Universidade de Brasília (UnB).

O canal de transmissão é a desaceleração da taxa de crescimento da população em idade ativa, que torna a oferta de trabalho mais inelástica. Os salários reais estão ficando mais sensíveis aos movimentos de aumento da demanda por trabalho, elevando os custos de produção.

O estudo mostra que os setores produtores de bens comercializáveis são mais sensíveis à mudança demográfica, as indústrias intensivas em trabalho são particularmente afetadas, e o setor produtor de commodities é indiretamente beneficiado. Ele argumenta que o aumento da produtividade do trabalho é condição fundamental para se mitigar os efeitos da transformação demográfica na competitividade da indústria. Por isso, a produtividade deveria ser um dos objetivos centrais das políticas que visam aumentar a competitividade e proteger empregos.

No caso do Brasil, a taxa de fecundidade passou de 2,8 filhos para 1,9 por mulheres entre 1990 e 2010, bem abaixo da taxa de reposição populacional de 2,1. As projeções apontam que a taxa de fecundidade do Brasil estará entre as menores do mundo antes do fim desta década.

"O Brasil situa-se no incômodo grupo de países com taxa de fecundidade baixa e renda relativamente baixa", escreve Arbache. "Com a tendência de declínio da taxa de fecundidade e o rápido envelhecimento da população, o Brasil passará no futuro próximo pelo seu maior desafio para alcançar a prosperidade econômica e o progresso social, que será encontrar meios de fazer a renda per capita crescer ao mesmo tempo em que aumentarão a razão de dependência e os custos previdenciários."

Ele ilustra a que ponto o custo do trabalho no Brasil é alto para padrões internacionais. Em 2008, o custo da hora trabalhada no Brasil era bem mais alto que na Polônia e Taiwan. E em apenas seis anos aumentou 174% em dólar. Ele é muito maior que na China e como também o hiato aumentou no período, isso ajuda a explicar porque os chineses continuam inundando o Brasil com suas mercadorias.

Mais importante que o gasto com pessoal para explicar a competitividade é a baixa produtividade do trabalho, que tem crescido modestamente em relação aos emergentes. Entre 2000 e 2009, a taxa cresceu 0,4% em média por ano no Brasil, comparado a 5,2% na China e 2,8% na Índia

Arbache nota que a elevação do custo do trabalho deveria estar incentivando a substituição de trabalho por capital. Mas o custo do capital também é elevado em relação a competidores e parceiros comerciais, como a China, criando o que o economista chama de "suposta armadilha de investimento". Essa armadilha, diz ele, tem sido desmontada por mais realocação de recursos para os setores produtores de commodities e semimanufaturados intensivos em recursos naturais, onde as despesas com pessoal são baixas e os preços internacionais mais favoráveis. Assim, os investimentos na manufatura vão depender cada vez mais de ajuda governamental.

Arbache acha que para mitigar os efeitos demográficos e viabilizar emprego e investimento na indústria manufatureira será preciso aumentar fortemente a produtividade mesmo nas micros e pequenas empresas e no setor informal.

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