terça-feira, 11 de outubro de 2011

EMPREGOS COMEÇAM A VOLTAR DA CHINA PARA OS EUA
Por JOHN BUSSEY
Alguns anos atrás, eu conheci em Hong Kong um fabricante de móveis da Carolina do Sul que havia terceirizado sua produção para a China e acabou sendo esmagado por seus parceiros chineses que começaram a vender diretamente para o mercado dos Estados Unidos.

Sem dúvidas, ele ficaria intrigado de ver que a maré, hoje, está mudando novamente.

No "grande jogo" do salário global e da arbitragem de custos, partes de algumas indústrias relativamente surpreendentes estão voltando para o território americano, e o ritmo desse retorno pode aumentar. A produção de móveis – trabalho normalmente árduo e desenvolvido por trabalhadores com baixa qualificação – é apenas um exemplo. Na semana passsada, a Ford afirmou que produzirá, nos Estados Unido, partes de seus automóveis que tradicionalmente eram feitas na China. E tem mais.

Os vigias do câmbio no Congresso dios EUA estão promovendo uma lei que penaliza a China por manipular o yuan – a moeda chinesa. É melhor que eles atentem para a seguinte tendência: os empregos que eles querem trazer para casa já estão voltando aos poucos para os EUA –ênfase em "aos poucos".

Bruce Cochrane é emblemático dessa nascente mudança. Ele está abrindo uma moveleira em Lincolnton, na Carolina do Norte, um fato raro para uma região e uma indústria fortemente apoiadas na terceirização. Na última década, o emprego em fábricas de móveis americanas caiu em 60%. Cochrane diz que, antigamente, móveis feitos na China e vendidos nos EUA tinham uma vantagem de até 50% nos preços. Hoje, esse índice já caiu para 10% a 15%, em parte porque os salários na China estão em alta —15% ou mais ao ano em algumas localidades.

Custos com transporte, diz ele, dobraram nos últimos anos.

"Lá por 2006, eu vi um ponto de virada, principalmente em custos de trabalho", afirma Cochrane, que já morou na China.

Já faz alguns anos que certos empregos têm voltado para os EUA, mas agora o que deve ganhar foco são os setores com mais probabilidade de repatriar suas produções.

Hal Sirkin, da consultoria Boston Consulting Group, identificou as sete categorias da indústria mais suscetíveis a realocar suas produções direcionadas ao mercado americano (aquelas focadas no mercado chinês permaneceriam, em grande parte, na China). São elas: móveis, transporte de cargas, computadores e eletrônicos, equipamentos e aparelhos elétricos, plásticos e produtos de borracha, maquinaria e produtos metálicos.

Sirkin afirma que, hoje, os produtos dessas categorias podem até ser mais baratos de fabricar na China, mas com os custos de trabalho, materiais e transporte subindo, a vantagem apontará para os EUA em cerca de quatro anos.

Em um estudo, Sirkin calcula que a produção que retornos para os EUA poderiam gerar até 800 mil novos empregos no setor manufatureiro e até três milhões se somados os empregos criados no setor de serviços. No passado, prognósticos otimistas nesse sentido acabaram não se concretizando. Hoje, porém, algumas forças presentes no mundo do trabalho sugerem que desta vez pode ser diferente.

Entre essas forças: os custos crescendo permanentemente na China; mais flexibilidade por parte de alguns sindicatos americanos, resultando em menos regras de trabalho e custos trabalhistas mais baixos; mais subsídios dos governos estaduais; produtividade muito mais elevada nos EUA; e pressão dos varejistas para reduzir o tempo de operação e cortar inventários, fazendo com que um maior número de fabricantes abandone cadeias de fornecimento muito longas.

E há o câmbio.

Desde 2005, Pequim permitiu que sua moeda subisse 30% em relação ao dólar. Já que um yuan mais forte torna as exportações chinesas mais caras em mercados estrangeiros, isso é ruim para os empresas americanas que fabricam na China para atender a consumidores nos EUA – e para consumidores americanos viciados em produtos chineses baratos.

Mas para quem torce pela repatriação da produção americana, é uma bênção. "Nós estamos no processo de trazer tudo de volta da China", diz David Gil, diretor de Marketing da Sleek Audio, que fabrica fones de ouvido ajustáveis de alta tecnologia. Além dos crescentes custos na China, o processo de controle de qualidade também se mostrou uma dor de cabeça.

A empresa vende o fone de ouvido SA Six por US$ 250, preço que não mudará quando a produção se firmar em Palmetto, na Flórida, apesar de que seus custos subirão cerca de 20%. Segundo Mark Krywko, presidente da companhia, um melhor controle de qualidade e menos perda de inventário compensarão o aumento dos custos. "Os lucros vão subir", garante.

Já Cochrane está adquirindo serras, roteadores e outros equipamentos de última geração para suas instalações, exemplificando por que a produtividade é robusta nos EUA.

O outro lado da moeda é o emprego. Assim que a mais nova fábrica de móveis da Carolina do Norte estiver funcionando, Cochrane espera realizar com 135 funcionários o que, no passado, realizava com 250.

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