segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Essa notícia, que o VALOR publicou há alguns dias, gerou bastante comentários, na ocasião, na imprensa especializada, embora já tenha sido relegada às masmorras do esquecimento: " Notícia do jornalista Assis Moreira, correspondente do Valor Econômico, de Genebra, Suíça, dá conta de que o real, a moeda brasileira, foi a segunda moeda que mais se valorizou, 45%, entre 2005 e 2011, segundo o BIS (Banco Internacional de Compensações), o banco central dos bancos centrais.
Eu estimava em 50%. Fica então explicado o veloz progresso do PIB brasileiro em dólares e a fulminante subida do PIB brasileiro entre os maiores PIB do mundo desde aquela época do manipulador governo anterior." Mas ela é bem mais importante do que uma mera curiosidade contábil. Então, ressuscito o assunto.
O PIB brasileiro em 2011 alcançou a marca, arredondada, de R$ 4 tri. Convertendo esse número pra dólares, e usando-se, para tal, a taxa de câmbio vigente em fins de 2011, de 1,75, teremos uns 2 tri 286 bi de U$, o que, asseguram, nos garante a sexta posição mundial no ranking dos países, por PIB (riqueza, isto é, mercadorias e serviços produzidos naquele ano). Aí é que a porca torce o rabo. Segundo o que a notícia, no início deste arrazoado citada, dá a entender, a taxa de câmbio brasileira andou crescendo bem favoravelmente ao real, de 2005 pra cá. Mas não é verdade, ou é apenas meia-verdade (detesto inverdades e meias verdades: como gerenciar com meias verdades?). Quem tem, por exemplo, mais que os inconfiáveis 30 anos, deve se lembrar da cotação de 1998: lembram, final do primeiro mandato da gestão FH, antes da brusca mudança cambial do início de 99? Pois é, a cotação, na época, era de R$ 1,65 por dólar. Não é necessário ficar pasmo nem apalermado: podem reler e relembrar, R$ 1,65 por cada alfacinha. Então, percebe-se facilmente o tamanho do absurdo: a taxa de câmbio de hoje em dia é praticamente a mesma de mais de 13 anos atrás (é isso mesmo, por mais incrível que pareça, pode acreditar, não minto pra você). Debalde todas as diferenças de inflação e de produtividade entre as economias americana e brasileira nos últimos mais de 13 anos, no caso da inflação, mais de 60%, e no caso da produtividade é perda de tempo falar, a taxa de câmbio "nada mudou", ou quase isso. Mas detalhemos mais, aprofundemos a análise, entremos fundo no mérito: lembram de quanto era essa taxa em 2002 (o problema de certos gestores é que há pessoas que cuidam bem de suas memórias)? Pois é, em 2002 a taxa média foi de R$ 2,80 por verdinha. Em alguns momentos, essa taxa, em 2002, chegou a passar dos R$ 3,00 por dólar. E, há poucos meses, mais exatamente em agosto de 2011, dias antes do BC começar a adivinhatoriamente reduzir a taxa de juros Selic, o câmbio estava em inacreditáveis R$ 1,53! Não, você não leu errado: R$ 1,53, mesmo. É isso mesmo que você está pensando: menos que em 1998, há mais de 13 anos. Mesmo depois de todas as inflações e diferenças de produtividade de mais de 13 anos! Bem, nesse planeta estamos acostumados a supor que todo fenômeno tem causa lógica, natural. É verdade, desde janeiro de 2003 a Selic foi bruscamente elevada e mantida extraordinariamente elevada (o primeiro lugar no ranking mundial de taxas de juros, certo?). Em sequência, a taxa de câmbio declinou até os níveis ora conhecidos. Ou subiu, dependendo do ângulo de visão. O real sobrevalorizou-se absurdamente, portanto, não a partir de 2005, mas a partir de 2003, ou seja, desde o advento da gestão anterior. O gestor anterior recebeu a gestão com o Brasil em oitavo lugar no ranking mundial dos PIB, em sua gestão, o Brasil chegou a cair pra nono lugar e depois retornou ao oitavo, tendo em 2011 galgado duas posições (conto o ano passado como pertencente à gestão anterior; não sei se vou acabar contando esse também). Ora, você dirá: E daí? Daí que se o real não tivesse sido artificialmente tão valorizado, a taxa de câmbio já deveria estar em cerca de R$ 3,00, estimo. Então, teríamos mais exportações (mais empregos), inclusive de produtos industrializados; e menos importações (mais empregos), inclusive de comodities. Maior saldo da balança comercial, mais indústria, mais agricultura, mais riqueza (maior PIB real, ou seja, em reais). Sem dúvida, porém, não estaríamos tão bem no ranking mundial por PIBs em dólares, mais o PIB real seria maior. Diga-se que há pouco essa taxa havia chegado a R$ 1,86, depois de sucessivas reduções da Selic, mas foi devolvida ao patamar de R$ 1,75, talvez porque a mudança da taxa podesse prejudicar a posição no ranking, e consequentemente o (mau, por que baseado em artifícios) marketing do gestor anterior. É fácil perceber que uma taxa de R$ 3,00/dólar geraria um PIB em dólares de apenas 1,33 tri; cairíamos no ranking, claro, mas pelo menos estaríamos em uma posição real, em vez de em uma posição "fake". Mas uma correção dessa supervalorização é gritantemente necessária, portanto. Repito, quem mais ganharia com tal fato seriam os trabalhadores, o emprego.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial