domingo, 3 de julho de 2011

VALORES E CULTURA
Como as pessoas que conhecem minha atuação sabem, tenho caracterizado meu trabalho pela ênfase na busca de modos de reduzir o elevado índice de insucesso nas mudanças organizacionais e/ou grupais, modo geral.
Tal fato é comprovado pela minha dissertação, que busca tal objetivo, quando da tentativa de implementação da Gestão da Qualidade, alinhando a mesma às estratégias genéricas de Michael Porter; por ter sido eu talvez o primeiro profissional no Rio a divulgar o chamado “Método dos Oito Passos”, de John P. Kotter, o mais consagrado método organizado pra maximizar a probabilidade de êxito, rapidez e humanização quando da implementação de mudanças nas organizações; e pelo meu trabalho junto à equipe de consultores que assessoram o representante brasileiro na ISO em sua participação na elaboração da futura ISO 10018, que tratará no que o líder da organização e o respectivo RH devem atentar quando tentam implementar a Gestão da Qualidade segundo as normas ISO da série 9000.
Em todos esses casos de mudanças, aspectos relacionados aos valores e à cultura organizacional (ou do grupo, reitero) existente são da maior relevância.
As mudanças internas à organização são quase sempre causadas por mudanças no ambiente externo. Tais mudanças externas, também se sabe, são geradas, por sua vez, principalmente pelas evoluções do conhecimento, da ciência e da tecnologia, as quais, por seu turno, ocasionam mudanças nos campos sociais, econômicos e políticos.
Sabe-se também que os valores e a cultura organizacional, os mais influentes fatores no desempenho de longo prazo da organização, são afetados pelas mudanças no ambiente externo. Falando de modo mais claro, mudanças sociais, políticas, econômicas e/ou tecnológicas geram mudanças nos comportamentos das pessoas, em seus modos de ver o mundo e a vida, em seus próprios modos de vida, em seus modos de se relacionar com as outras pessoas e o ambiente; enfim, geram mudanças na cultura e nos valores dos grupos afetados.
Por exemplo, vejamos algumas mudanças geradas pelo advento da pílula anticoncepcional, uma mudança tecnológica. Tal possibilidade gerou, resumidamente, a chamada liberação sexual feminina, sensível redução da fertilidade feminina e dos índices de natalidade, o chamado “sexo livre”, a aceleração do ingresso feminino no mercado de trabalho, notável mudança no conceito do que é uma família e de qual é o papel da mulher na sociedade, e influenciou até na promulgação da chamada “Lei do Divórcio”.
Tais mudanças, sociais, políticas, econômicas, tecnológicas, nada mais são que manifestações da própria evolução humana, não só incessante, mas também cada vez mais acelerada. Se opor à evolução humana é se opor ao progresso, é nada menos que ludismo, inútil, prejudicial, tolo e superado. Em relação às mudanças, a posição inteligente não é se opor, nem mesmo acompanhá-las: é liderá-las.
Então, como já vimos, e como, por exemplo, a chamada “Primavera Árabe” corrobora, valores e culturas mudam, e frequentemente é melhor mudá-los que ser mudado.
Desse modo, resolvi mostrar a vocês um muito resumido arrazoado sobre valores e cultura, visando induzir à reflexão. É resumo de trabalho de consultor adiante citado.
Muitos estudiosos definem Valores como tendências amplas de preferência por certos estados ou relações versus outras, e/ou como sentimentos que apontam para a conclusão de que alguém tem mais ou menos razão. Os valores são um dos primeiros aprendizados na infância, não consciente, mas implicitamente. Por esta razão, muitos valores permanecem inconscientes para quem os possuem. Com base nos valores, são geradas as culturas organizacionais (geralmente com base nos valores de seus fundadores).
E surge então, naturalmente, o “viés cultural”: tudo aquilo que está de acordo com nossa cultura, consideramos normal e “bom”; tudo aquilo que é diferente da nossa cultura é anormal e “mau”. A explicação, diria Freud, está na infância.
O estudioso Geert Hofstede da Universidade de Maastricht (Holanda) elaborou o interessante Modelo a 4 Dimensões, que tende a descrever de modo sucinto a cultura de um grupo, conforme seu posicionamento a respeito de 4 aspectos presentes na vida, ou seja, que cada grupo vivencia. Tais posicionamentos são os chamados “valores” do grupo, e os aspectos/dimensões são:
• Distância de poder – DP - (Alta vs. Baixa)
• Individualismo vs. Coletivismo - IxC

• Fuga da incerteza (Alta vs. Baixa) - FI

• Masculinidade vs. Feminilidade - MxF

A Distância do Poder (ou aceitação da hierarquia?) deve ser entendida como o grau em que os integrantes menos poderosos das organizações aceitam que o poder seja distribuído de maneira desigual.
Há diferenças nos modos como os grupos lidam com a Distância do Poder:
Sociedades que aceitam baixa Sociedades que aceitam alta distância de poder: distância de poder:
Desigualdades sociais devem Deve haver ordem desigual
ser minimizadas de modo que cada um tenha seu
lugar definido
A hierarquia é uma desigualdade A hierarquia é desigualdade
definida por conveniência da existencial
tarefa
Os chefes devem ser acessíveis Os chefes devem ser um tanto inacessíveis
Todos têm direitos iguais Os poderosos têm direito a privilégios

O modo de ser caracterizado pelo Individualismo impõe que as pessoas devem cuidar de si mesmas e de suas famílias. Já no modo de ver Coletivista, as pessoas pertencem a grupos ou coletividades que devem cuidar delas em troca de suas lealdades.
Em sociedades
Individualistas Coletivistas
As pessoas têm opiniões próprias As opiniões são pré-determinadas pelos grupos
As pessoas devem pensar em si: As pessoas devem pensar na família, no trabalho,
- auto-interesse na sociedade
- auto-realização
A auto-punição é o sentimento A auto-punição é o sentimento de vergonha
de culpa
Todas as pessoas têm o mesmo valor As pessoas do grupo têm mais valor que as demais

A Fuga (ou medo) da Incerteza é o grau em que as pessoas se sentem ameaçadas por situações ambíguas e criam instituições e crenças para evitar e/ou se proteger dessas situações.
Em sociedades com
Baixa fuga da incerteza Alta fuga da incerteza
Conflitos e competição não são Conflitos e competição são indesejáveis
vistos como ameaças, “fazem parte”
Há tolerância e aceitação de Intolerância a pessoas e idéias diferentes
discordâncias Maior necessidade de consenso
Maior disposição a correr riscos Maior necessidade de segurança e de evitar erros
Quanto menos regras, melhor Necessidade de regras e estrita obediência a elas
Relativismo, praticidade, empirismo Busca de “verdades absolutas”

Por fim, em sociedades de elevada masculinidade, os valores dominantes são realização e sucesso. Já em sociedades predominantemente femininas, os valores dominantes são cuidar das pessoas e qualidade de vida.
Em sociedades
Masculinas Femininas
Ambição pelo desempenho e Qualidade de vida, servir às pessoas,
tentativas de sobressair-se nivelar-se aos demais
Viver pra trabalhar Trabalhar pra viver
Simpatia pelos realizadores bem sucedidos Empatia com os desafortunados
Papéis estritamente distintos entre Papéis de homens e mulheres sobrepostos
homens e mulheres

Com fulcro nesses conceitos, o consultor Américo Marques Ferreira classificou as culturas de alguns países, visando também induzir à reflexão:

NAÇÃO DP IxC MxF FI
BRASIL ALTA BAIXO MÉDIO MÉDIA
EUA BAIXA MÁXIMO ALTA MÉDIA
FRANÇA ALTA ALTO BAIXA ALTA
HOLANDA BAIXA ALTO MÍNIMO MÉDIA

O M.Sc. José Carlos Fontes é Professor e Coordenador de cursos de Pós Graduação.

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