sexta-feira, 29 de julho de 2011

A educação dirigida à inovação tecnológica é o caminho?


Nada está imune às criações do Vale do Silício. Índia e China já estão lá e Brasil está chegando


A educação dirigida à inovação tecnológica é o caminho, mas o espírito empreendedor é o que faz a diferença
26/7/2011 - 14:26 - Antonio Machado



Os tremores dos EUA, agora sacudidos pelo impasse entre o governo Barack Obama e a oposição no Congresso sobre o aumento do teto da dívida pública, se propagam no mundo como ondas de choque. Mas não há apenas crises econômicas a assombrar a sociedade globalizada.

No Vale do Silício, na Califórnia, o maior e mais dinâmico centro de inovação tecnológica do mundo, uma região que se estende de San Francisco a Palo Alto, envolvendo um cinturão de pequenas cidades, o ciclo de novas iniciativas é parte do ar que se respira. O DNA do “vale”, como seus habitantes se referem à região, é a pesquisa, o experimento, a maciça presença de estudantes e pesquisadores de fora dos EUA, sobretudo da Índia e China, e o viés empreendedor.

As transformações derivadas da internet são o fio condutor de uma revolução ubíqua, alavancada pelas redes sociais de relacionamento tipo Facebook e pelo inesgotável acervo de conhecimentos acessível pelo Google, que a tudo alcança – do estilo de vida à economia, do entretenimento à indústria, das finanças à geopolítica. Nada está imune à marcha batida do progresso. É um processo que mal começou.

O que se enxerga dessa região única, com um ecossistema sem igual ao amalgamar o investimento privado de risco à pesquisa aplicada e à educação, são os artefatos que tornaram a vida mais divertida e mais fácil, como Facebook, Google, Twitter, NetFix, eBay, Amazon, os gadgets da Apple, os games cada vez mais reais, como os rodados nas plataformas 3D. Menos visível é o impacto sobre o emprego, que só tende a crescer para a fatia da mão-de-obra mais qualificada.

Sem educação básica de qualidade, algo que mesmo os EUA começam a se ressentir, bastam dois ciclos de 12 anos de formação deficiente para comprometer o futuro de toda uma geração. Como é que estamos no Brasil? O que pode aspirar a nossa geração em idade escolar?

É impossível ficar indiferente às mudanças em curso. Os games dão a pista. O que eles embutem de realidade virtual são do mesmo tipo das tecnologias aplicadas na indústria aeroespacial, nas energias renováveis, na medicina de ponta, em que o campo de regeneração de órgãos humanos já saiu do terreno da ficção.

A política, mesmo nos EUA, não valoriza esse poder transformador porque não o entende. E pior: se deixou enredar - lá e aqui - em questiúnculas partidárias e pela agenda apequenada dos interesses de um sistema financeiro, como diz o professor da Universidade de Harvard, Umair Haque, que pouco ou nada tem a ver com a economia.

Fórmula única do vale

A reprodução do universo particular do vale, com os experimentos orbitando duas grandes universidades, de Stanford e Berkeley, há décadas é tentada, sem sucesso, em várias partes do mundo. Nem no outro grande centro criador de tecnologias nos EUA, a chamada rota 128, em Boston, região também de universidades de prestígio, como Harvard e MIT (Massachusetts Institute of Technology) chega perto.

Em Boston, as empresas emergentes, conhecidas por startups, são, normalmente, maiores, dotadas de mais recursos, e os investimentos de risco passam fácil da dezena de milhões de dólares. Falta-lhes, talvez, a informalidade californiana do vale e a metodologia muito peculiar na identificação e suporte dos projetos.

Os anjos da inovação

Um projeto fica de pé no circuito de San Francisco-Palo Alto mais pela disposição empreendedora e facilidade de trabalho em grupo do criativo que pela ousadia da idéia. As equipes de desenvolvimento, normalmente com dois a cinco integrantes, encontram apoio entre os pequenos investidores que formam o patamar inicial do ecossistema, os chamados “angel investors” - investidores anjos, literalmente -, com aportes de US$ 10 mil a US$ 50 mil. A competição é intensa.

As equipes se enfurnam em incubadeiras de projetos trabalhando em tempo integral por quatro meses em média, prazo para desenvolvê-lo e chegar ao protótipo a ser apresentado aos investidores da etapa seguinte: os “superangels” ou empresas de venture capital, espécie de banco de investimento que só lida com negócios reais.

Fé no empreendedorismo

Nesse estágio, o céu é o limite. O que todos querem são inventos que atraiam a atenção dos milhões de internautas ou que permitam desdobramentos em outras áreas da economia. A educação dirigida à inovação tecnológica é o caminho, mas o espírito empreendedor é o que faz a diferença.

É para beber dessa formula que governos como da China e de Cingapura, que investe US$ 6 bilhões/ano em negócios emergentes, enviam levas de jovens para não só estudar, mas ser evangelizada por essa cultura. O Brasil pode ser o próximo.

Os pequenos criam mais

Mais que dinheiro, a química entre educação de qualidade desde a básica, o ensino superior vocacionado a treinar mentes livres sem receio de ousar e errar e uma rede de mentores dando o suporte de aconselhamento quase que como condição básica para um projeto ter apoio financeiro é o que explica a excepcional taxa de sucesso das inovações nos EUA.

Não são grandes empresas que as geram, mas as de menor porte, quase sempre criadas a partir de uma idéia.

Quando maduras, elas têm duas opções: seguir em frente, o caminho da Apple e Google, ou ser engolida por um gigante. Depois de rios de dinheiro gastos com programas de inovação mais mal que bem-sucedidos, a China adotou o mesmo caminho. Está ai a sugestão.

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