sexta-feira, 4 de novembro de 2011

ANTONIO MACHADO


Comércio e indústria crescem no mundo em agosto e já estão acima dos níveis pré-recessão de 2008/09


Produção global já é 6,4% superior ao recorde anterior e comércio supera 3,2% a marca do último pico, registrado em abril de 2008
22/10/2011 - 23:59 - Antonio Machado


Virou lugar comum falar sobre a crise econômica na Europa e EUA, que a recessão nas duas maiores economias do mundo é certa, prever o “pouso forçado” da China, estouro da inflação no Brasil. É como se vivêssemos à véspera do apocalipse - por sinal, prevista por um pastor dos EUA para ontem. Raro é encontrar quem diga o que se tem feito no mundo enquanto as tragédias não chegam.

É pedir muito, por exemplo, sabermos que as exportações no mundo, em dólares, cresceram 0,5% em agosto sobre o mês anterior, vindo de quedas de 0,8% em julho e 0,2% em junho? Em base trimestral, os movimentos são de alta desde o último trimestre de 2010, quando as exportações globais cresceram 4,8%, abriram 2011 crescendo 4,9%, e repetiram esse mesmo percentual no período de abril a junho.

O acompanhamento é do CPB Netherland Bureau for Economic Policy Analysis, um centro de estudos financiado pelo governo da Holanda. O CPB consolida os dados sobre comércio e produção industrial no mundo a partir de várias fontes, entre as quais o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Banco Mundial (World Bank). Tais dados não divergem dos cenários de desaceleração econômica que estão na raiz do pessimismo global. Simplesmente, indicam que andar mais devagar não significa parar.

O economista Mark Perry, professor da Universidade de Michigan, construiu um índice baseado nos dados do CPB. O comércio mundial em volume, segundo ele, cresceu 1,4% em agosto sobre julho e 5,9% em relação a igual mês de 2010, elevando o índice ao seu recorde histórico - 166,5 pontos. O comércio global está agora 3,2% acima do último pico, registrado em abril de 2008, a 161,3 pontos, e 28% acima do nível mais baixo, em março de 2009, a 103,2 pontos.

Em termos anuais, o crescimento das exportações foi especialmente forte nas economias emergentes (9%) e nos EUA (6,6%), enquanto os países asiáticos lideraram as importações, ao ritmo de 10%.

O desempenho da produção industrial foi ainda mais expressivo, ao se considerarem os impasses na Zona do Euro, o travamento político do presidente Barack Obama nos EUA e o Japão se recuperando de um terremoto, tsunami e acidente nuclear. A indústria cresceu 0,3% em agosto no mundo, vindo de aumentos de 0,4% em julho, 0,6% em junho e 1% em maio. Em bases anuais, cresceu 5,5%, com a Ásia (+11,1%) e os países emergentes (+8,21%) puxando a expansão até agosto.

Nos índices de Perry, a produção industrial está agora 6,4% acima de seus níveis pré-recessão e 21% além do piso, em março de 2009.

Ponto e contraponto

“O comércio e a indústria se recuperaram totalmente da contração econômica global entre 2008 e 2009 e estão agora bem acima de seus picos registrados no início da recessão”, diz Mark Perry.

De fato, os problemas não acabaram, já que EUA, os países da Zona do Euro e Japão continuam a carregar dívidas e a acumular déficits que o mercado reluta financiar. A banca na Europa está entupida de papéis de Tesouros sem caixa, como Grécia, ou ilíquidos (Irlanda e Portugal), e dos de duas economias estagnadas: Espanha e Itália.

Foco só em nota ruim

A lista de problemas é enorme. Nos EUA, a retomada mais vigorosa é presa pelo endividamento do consumidor, sobretudo com hipotecas. Na China, inflação alta, excesso de investimento com baixo retorno e o crédito público esgarçado forçaram o governo a pisar no freio, razão da distensão do preço das commodities, o nosso grande ativo.

Só que de problemas não faltam especialistas. De soluções, ou, se nem tanto, de informações menos medonhas, é que o mundo anda muito escasso. Vejamos os EUA. Esta semana, Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve, disse que a economia continua fraca. Mas também disse que há relatórios falando de melhoras localizadas. E o que a imprensa e os analistas destacaram? O lado ruim da narrativa.

PIB dispara nos EUA

Objetivamente, os últimos dados sobre a produção e a demanda nos EUA espantaram os pessimistas. As vendas no varejo cresceram 1,1% em setembro, sendo o sétimo mês seguido em alta, e o investimento industrial, embora ainda baixo, subiu.

Tais dados fizeram o Banco Morgan Stanley elevar para 3,3% sua projeção de crescimento do PIB no 3º trimestre, o segundo melhor número nos últimos cinco anos, e prever expansão de 2,2%, com viés de alta, neste 4º trimestre.

Um pouco mais de densidade nas análises sobre a economia global pode surpreender muita gente. A rigor, nem na Europa a recessão é certa, como disse Jean-Claude Trichet falando pela ultima vez como czar do Banco Central Europeu. Ao menos, ela ainda não aconteceu.

A quem a crise ajuda

Três observações talvez estejam a turvar a visão dos analistas. A primeira é que hoje a crise é essencialmente das finanças públicas – não do setor privado. Na Europa, confunde-se com uma governança capenga, além da má-vontade não explícita de alguns países sobre a união monetária. A segunda: os políticos na Europa sob pressão dos eleitores querem passar parte do ônus do ajuste para a banca. É um processo menos provável quanto maior a crise. Em última instância, é a banca, neste caso, que precisaria ser outra vez resgatada.

Nos EUA há um embate assemelhado. O governo e o Congresso querem limitar o vôo dos bancos. A crise também os favorece. Eles têm US$ 2,2 trilhões em caixa e não emprestam. E as empresas, outro tanto.

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