quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O OLHAR PRA TRÁS
As pessoas, no Brasil, gostam muito de olhar pra trás e dizer: "veja o quanto já se progrediu". E realmente já se progrediu bastante, é fato. Por exemplo, por décadas - desde o início da década de 70, após o "choque" do petróleo - nos acostumamos (será?) às terapias de choque. Racionamentos, empréstimos compulsórios, maxidesvalorizações, pacotes, pacotões e pacotaços de toda ordem. Em curto espaço de tempo chegamos a ter várias diferentes moedas - nem me lembro quantas - da noite pro dia, umas com outras sem "tablitas".
De tal modo que, quando se mudou de moeda sem "choques", achamo-nos quase no paraíso. E os choques não voltaram, ao contrário, talvez só em 2003, quando a taxa de juros foi jogada de 15% a.a. pra 26% de modo repentino - comparativamente, um "choquinho".
O fim das terapias de choque - pacotes - deve evidentemente ser comemorado.
Mas não é por isso que se deixou de se exagerar na dose em muitas coisas, ao contrário do que muitas pessoas pensam ou querem que se pense.
Então, como os juros passaram a variar de modo gradativo em vez de drástico e repentino, muitas pessoas acham que está tudo bem, é assim mesmo, não há o que reclamar; quando o excesso de juros por tempo excessivo faz muito mais mal que bem.
Ninguém inveja nossa taxa de juros, ninguém inveja nossa carga tributária, poucas nações invejam o nível da corrupção no Brasil, pra citar apenas alguns exemplos. Então, em vez de se olhar para o passado visando mostrar o quanto se fêz, e talvez justificar a complacência em relação a níveis atuais inadequados, seria interessante olhar pro presente, e pro futuro, e verificar o quanto foi deixado por fazer. É, antes seja lá do que fôr, necessário reconhecer que continuamos carregando boa parte daqueles exageros dos tempos de "choques" nas mentes, pois só isso explica o quanto se tolera tais juros excessivos, impostos excessivos, etc. E é necessário reconhecer que já houve tempo mais que suficiente pra se resolver tais questões. No caso dos juros, por exemplo, o nível excessivo dos mesmos, aplicados por período de tempo excessivo, está ajudando a matar o paciente produção, pois corresponde a um aperto excessivo na intensidade e igualmente excessivo na duração.
O que a maioria das pessoas não consegue perceber é que a civilização da economia, do mesmo modo que a civilização em muitas outras esferas, está em pleno andamento, sempre estará, e que temos caminho longo por diante. Não importa quantos passos já tenhamos dado na caminhada, há que se caminhar longa distancia só pra se chegar a lugar aceitável, em vez do ideal. É necessário mudar essa mentalidade acomodada segundo a qual, por se ter dado alguns passos, "já está bom, já podemos parar". É justamente nessas horas e justamente com esses argumentos que os que são contra a mudança contam, pra levar às pessoas à acomodação e a pararem com a mudança.
Ou seja, é necessário civilizar esses juros, civilizar os impostos, civilizar a economia, que realmente deve se voltar mais pra empregos (economicamente sustentáveis, leia-se empregos na iniciativa privada) que pra PIB e/ou inflação, mas sem descurar desses. Não podemos aceitar tais excessos, não podemos nos deixar enganar pelos argumentos auto-interessados dos que não querem a continuidade das mudanças.
Olhar pra trás não é bom, é melhor olhar pra como estão os mais adiantados, aprender com tais nações, é melhor olhar pra como e onde estamos, e pra onde já deveríamos estar.

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