quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

MANTER A URGÊNCIA CRIADA

Tudo bem, criamos urgência. Agora trabalhamos com prazos (curtos mas cumpríveis) que mantêm a urgência, estabelecemos metas, fazemos freqüentes medições e avaliações. Feedback é gerado e fornecido abundantemente, intervenções são sempre adotadas ao menor sinal de desvio do caminho correto, resultados são alcançados e até superados; os melhores –aqueles que entregam os resultados almejados dentro dos prazos combinados - permanecem, os piores se vão, pelo menos pra outros departamentos, as coisas estão indo para os trilhos.

Agora todos sabem que a procrastinação, a complacência, a falta de concentração no foco e a lerdeza não são toleradas, e o clima correto de busca incessante de resultados e melhoria da produtividade está instalado.

Mas isso é agora, hoje, no momento presente. Já não foi assim no passado. Lembra como tudo começou? Êxito, vitória, mais êxitos, mais vitórias, a certeza de saber e poder conseguir mais e melhores resultados... As comemorações, os reconhecimentos sem fim... Concorrente nenhum tem como nos derrubar, nós que sabemos tanto, que conseguimos tanto... “We are the champions, my friend...”

Então, sem sentir, sem querer e sem notar, a lenta, calma e relaxante acomodação. Então, novas mudanças: lembra? Mudanças tecnológicas, culturais, sociais etc... E aí necessitamos criar a urgência. E o fizemos. Mas... (“wild world”, há sempre um mas...) e se (“wild world”, há sempre um criador de cenários, pra não dizer de caso...) os resultados ora sendo alcançados nos lançarem, imperceptivelmente, a nova acomodação?

É mesmo, não basta criar a urgência, é necessário mantê-la!... E agora há o aquecimento global, o terrorismo, a biogenética, a China, a nanotecnologia, a Índia, o apagão da mão-de-obra... Meu Deus, onde isso vai parar?

Pois é, não vai parar.

Temos que manter a urgência criada. A criação da urgência deve ser contínua.

É necessário institucionalizar a urgência. Já que a organização é também um sistema, se a urgência não é ali institucionalizada, a entropia vence. Se criar a urgência salvou a empresa, deixar a urgência morrer será o fim da sobrevivência organizacional.

Comemorações desmedidas e/ou fora de hora indicam que não é mais necessária a urgência, que se pode relaxar... Enfim, não há nada mais perigoso que o sucesso. Remover essa nova rodada de complacência sem dúvida será mais difícil, demorado e custoso que na primeira vez.

Não, a complacência não pode voltar.

Então, vamos rememorar o que fizemos pra criar o senso de urgência, e que devemos continuar fazendo, mesmo que sob novas vestes ou disfarces:

1 – Mostre que se está diante de uma crise: se é necessária mudança, e se é necessária urgência, normalmente, se está frente a uma crise, ou seja, uma situação que se não for logo resolvida gerará grandes consequencias.

2 – Mostre os dados ruins: na maioria dos casos, as pessoas evitam mostrar os dados ruins.

3 – Estabeleça metas ambiciosas: metas bem estabelecidas sempre “acordam” as pessoas.

4 – Relacione o atingimento das metas a consequencias: premiações se alcançadas. Aos que não atingirem suas metas, considere razões honestas, se houverem, pra o não atingimento, e se ações corretivas estão sendo adotadas.

5 – Divulgue comparações com concorrentes: pra mostrar o desempenho que é possível, e o desempenho que se está tendo. A idéia é a seguinte: se concorrentes conseguem é claro que podemos e devemos conseguir também, por que não?

6 – Divulgue pesquisas mostrando o quanto se está “ficando pra trás”, mostrando como as pessoas de fora nos avaliam, mostre as tendencias que nos esperam se nada fizermos etc

7 – Empregue consultores externos pra que divulguem dados relevantes e gerem debates honestos

8 – Comunique de modo a gerar debates honestos, abertos, francos e com todos os dados corretos. Busque mudar a cultura de insinceridade e acomodação.

9 – Dialogue com aqueles que têm opiniões desfavoráveis, em vez de só com quem é “de dentro”, por que estes escondem dados ruins.

10 – Neutralize a miopia interna com dados obtidos no ambiente externo.

Acrescente essas abordagens, dessa vez:

- Demonstre sempre teu próprio senso de urgência nas tuas interações com os demais integrantes da empresa.

- Lide com os resistentes à mudança (foi motivo de artigo específico).

- Lembre que as mudanças só serão adotadas se forem enfatizadas duas atividades importantíssimas: comunicação e treinamento.

Comunicação e treinamento, que levaram as mudanças a percorrerem todo o caminho da adoção até suas institucionalizações, serão essenciais pra manter os adequados senso e nível de urgência. Comunique e treine, treine e comunique, desde agora e sempre.

- Outra ênfase que antes das mudanças não existia e que deve passar a integrar a cultura da empresa é uma enorme atenção a tudo o que se passa no ambiente externo, no mercado, nos concorrentes, clientes etc, ou seja, uma permanente e cuidadosa atenção aos stakeholders. Esse novo modo de lidar com os stakeholders também deve passar a integrar indelevelmente a cultura da empresa, é essencial.

Todas as atividades antes praticadas pra gerar o senso de urgência devem continuar a ser praticadas, e se já não fazem efeito, mude suas roupagens; faça as mesmas coisas, mas de modo diferente, se já se tornaram repetitivas e monótonas. É claro que se continuará trabalhando com prazos, metas, medindo, avaliando, fornecendo feedback e conseqüências etc, mesmo que a forma (jamais o conteúdo) dessas atividades necessitem mudar.

Vale usar os mecanismos de mudanças culturais pra institucionalizar de vez a urgência na cultura da empresa:

* Em que os líderes prestam atenção (no caso, urgência). O que eles medem e controlam (prazos);

* Como os líderes reagem a incidentes críticos e crises organizacionais: com urgência;

* O papel deliberadamente desempenhado pelos líderes nas modelagem, ensino e condução. O comportamento dos líderes nos cenários formal e informal, o exemplo de urgência;

* Como os líderes alocam recompensas e punições, os critérios empregados, entre eles e importantes, a urgência, os prazos etc;

* Os critérios usados pelos líderes para recrutar, selecionar, avaliar, promover e dispensar colaboradores: entre eles a agilidade e a urgência;

* Projeto e estrutura organizacionais que induzam às rapidez e urgência ;

* Sistemas, normas e procedimentos da organização, todos incluindo a urgência;

* Projeto do espaço físico (layout), fachadas e edifícios, facilitando a rapidez e a urgência;

* Histórias, lendas, mitos e parábolas importantes sobre a importância da rapidez e da urgência;

* Declarações formais de filosofia, valores, princípios e credos organizacionais que incluam a importância da rapidez no atendimento dos stakeholders.

A crise (importância + urgência) tornou-se o estado natural das coisas. A necessidade da urgência não cessará. As organizações que não têm esse senso pronunciado acabarão sucumbindo ou o adotarão. As que o têm logo avaliarão se não é necessário incrementá-lo.

A mudança é onipresente.

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