sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

TRÊS ANOS DEPOIS por Julio Sergio 15/12/2011 para 15:46
A divulgação do PIB brasileiro do terceiro trimestre permite conceber as tendências da economia brasileira após a grande crise mundial deflagrada em setembro de 2008. A crise ainda está em processo e novos rumos poderão ser adicionados. A política econômica brasileira está, por outro lado, disposta a redirecionar suas ações em várias áreas que poderão levar a mudanças no cenário da economia doméstica.

Mas, mantidas as tendências atuais, parecem claros os seguintes delineamentos. Primeiramente, o PIB brasileiro do terceiro trimestre deste ano é 7,8% maior do que o seu correspondente em 2008, o que significa dizer que a economia brasileira logrou superar o efeito do contágio da crise mundial. Este resultado é revelador, porém, que outros países emergentes foram muito além do crescimento brasileiro, como China e Índia.

Ainda mais importante do que o quantitativo do desempenho econômico é a estrutura desse crescimento. Os dados mostram com muita clareza que o acréscimo do consumo das famílias, de 14,2%, é que puxa o aumento do PIB, enquanto o investimento (+11,8%) tem papel subsidiário. Exportações de bens e serviços, a despeito de toda pujança do setor agropecuário e da mineração, tiveram baixo dinamismo (+5,1%), sucumbindo ao fraco aumento das exportações de manufaturados, ao passo que as importações, também manifestando a frágil competitividade industrial, tiveram acréscimo elevadíssimo (+31,7%). Serão essas as tendências do próximo ciclo longo da economia brasileira? Uma economia que consome muito e daí tira o seu potencial de crescimento, que investe "para o gasto", que tem dinâmica exportadora modesta e restrita ao setor primário e é altamente importadora não é o melhor modelo de desenvolvimento. O pré-sal pode alterar esse quadro, mas ao custo de aprofundar o viés exportador nos setores básicos.

Há um reflexo claro dos processos acima sobre a estrutura setorial do crescimento da economia. A liderança do consumo faz a festa do setor de serviços, que lidera a expansão do PIB com aumento de 8,8%. Nos segmentos que vendem ao consumidor e que financiam o consumo o destaque é ainda maior: a variação do PIB em comércio foi de +9% e em intermediação financeira chegou a +21,8%.

A agropecuária teve performance relativamente modesta (+5,4%), mas é na indústria que o descompasso aparece nitidamente. Seu PIB desde a crise só cresceu 2,8%, graças à extrativa mineral e ao boom da construção civil. No mesmo período a manufatura acumulou retrocesso de -3%. Novamente, cabe a indagação: é esse o perfil da economia que nos levará ao desenvolvimento, o qual combina desindustrialização com precoce especialização em economia de serviços?

O predomínio do investimento sobre o consumo e um maior equilíbrio entre importações e exportações são imprescindíveis para assegurar um melhor crescimento de longo prazo, assim como é decisivo preservar o dinamismo do setor primário e reposicionar de forma radical o balanço entre indústria e serviços. Nada disso se faz sem políticas muito determinadas no câmbio, nos juros, na política industrial, na inovação e produtividade, na defesa comercial e em programas de compras governamentais.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Nordeste sofre com baixa diversificação da indústria
Por Francine De Lorenzo | Valor
SÃO PAULO – A forte retração da indústria nordestina, que nos doze meses encerrados em outubro acumula queda de 4,7%, reflete a pouca diversificação de setores, aponta o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). A região concentra grande parte das indústrias têxtil, de calçados e artigos de couro, que estão entre as que mais têm sofrido a concorrência de importados.

“A produção nesses setores está caindo agudamente em todo o país. Mas como grande parte das empresas está instalada no Nordeste esse movimento fica mais evidente lá”, diz Rogério César de Souza, economista-chefe do Iedi, lembrando que em Santa Catarina os números também são negativos. Pelos cálculos da Tendências Consultoria, cerca de 20% da indústria têxtil e de artigos de couro do país encontra-se na região Nordeste, o que faz com que a participação do setor na indústria local chegue a 11%.

Apenas no Ceará o setor têxtil acumula queda de 23,8% nos 12 meses findos em outubro, período no qual a produção de calçados e artigos de couro encolheu 21% e a de vestuário e acessórios baixou 12,9%. Esses resultados contribuíram para a contração de 11,6% da produção industrial do Estado.

Entretanto, não são somente esses os setores que estão deprimindo a indústria nordestina. O segmento de refino de petróleo e álcool tem apresentado intensa contração na região, caindo 25,2% no Ceará, 4,7% na Bahia e 4,6% em Pernambuco. “Neste caso o desempenho do setor está muito ligado à estratégia corporativa. Enquanto a atividade diminui no Nordeste, ela cresce com força no Paraná”, pondera Souza. Em 12 meses até outubro, o refino de petróleo e álcool no Estado avançou 10,5%.

Por ser dependente de poucos setores, o Iedi estima que a produção industrial do Nordeste deverá continuar patinando nos próximos meses. “São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, por terem uma indústria mais diversificada sofrem menos”, afirma. “Mas os efeitos mais graves da crise internacional sobre a indústria brasileira ainda estão por vir”, alerta Souza, acrescentando que além de persistirem as importações, as exportações deverão registrar queda no próximo ano, tanto as de bens transformados como as de extrativos minerais. "E sabemos que as medidas de incentivo ao consumo demoram para surtir efeito", complementa.

Embora espere “desaceleração generalizada” na indústria em 2012, a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Zara, acredita que os Estados que contam com extração mineral deverão conseguir minimizar os efeitos negativos da crise. “A Petrobras mantém um plano de aumento de produção”, afirma.

Ela também destaca como fator positivo o reajuste de cerca de 14% no salário mínimo no próximo ano, que tende a impulsionar o consumo, principalmente dos segmentos que não sofrem tanto com a concorrência dos importados.

(Francine De Lorenzo | Valor)

COMENTÁRIO AO ARTIGO DA MIRIAM LEITÃO:

COMENTO: Se a desaceleração brasileira deveu-se na maior parte à desaceleração externa, então o BC agiu tarde, em 31/08. Mas se o BC agisse antes, a inflação estaria maior. Então é reduzir gastos, mas do governo, pra reduzir juros e o Custo Brasil decorrente. O Brasil vai crescer nesse ano quase tanto quanto os EUA. Alguém deve dizer pras empresas não desmontarem seus setores da Qualidade, por que não dá pra nossa indústria competir em preços com a China, Coréia etc. O jeito é partir pra diferenciação dos produtos, pra inovação, pra Qualidade. Se se pensar só em preços, custos, a indústria só vai encolher. Se acomodar com as commodities é isso aí: só comodismo mesmo.

MIRIAM LEITÃO: O MUNDO ATRAPALHOU

O Brasil ficou estagnado no terceiro trimestre. Este será o dado com o qual o país se defrontará hoje quando sair o número do PIB. A produção industrial encolheu 0,9% no período, a produção de aço mergulhou 15%. O quarto trimestre até agora também está negativo. O PIB de 2011 está caminhando para uma taxa de 3% no melhor cenário. Mesmo assim, é um bom resultado.

O ano teve sustos, interrupções, crises demais, por isso é natural que o crescimento que se previa ficar entre 4,5% e 5% tenha ficado na verdade em torno de 3%. Do quarto trimestre, só há dados de outubro, mas não se espera uma reversão da tendência, mesmo com a queda dos juros e o pacote.

Ontem o mercado estava em dúvida sobre se o indicador a ser divulgado hoje será de zero, ligeira alta ou pequena queda, mas qualquer que seja o número ele mostrará estagnação. A MB Associados acha que pode, no melhor cenário, dar 0,3% de alta, mas não afasta o risco de até ficar negativo. Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, o resultado seria de 2,6%. Uma freada forte porque o ano passado terminou em 7,5%.

— Essa desaceleração está mais relacionada com a crise internacional do que com efeitos da política doméstica. Foi feito pouco em matéria fiscal e monetária para justificar a desaceleração. Infelizmente estamos sendo contaminados pela paralisia que estamos vendo no mercado financeiro internacional — disse Sérgio Valle, da MB.

E a situação internacional teve ontem novos capítulos para confirmar que este ano é mesmo o da dúvida. A boa notícia foi que juntos os governantes da Alemanha e da França, Angela Merkel e Nicolas Sarkozy, anunciaram que chegaram num amplo acordo para a reestruturação da Zona do Euro. No final da tarde, no entanto, veio a notícia de que a Standard & Poor’s colocou em perspectiva negativa as dívidas de 15 países da Zona do Euro. Hoje, França e Alemanha são triplo A.

O Brasil não está desacelerando sozinho. Países vizinhos que cresceram muito no ano passado também estão com ritmo menor. Os bancos centrais do México e do Chile mantiveram as taxas de juros acionando o modo "esperar para ver". A economia chilena é a mais vulnerável da região a uma desaceleração da China. Segundo a consultoria Capital Economics, o ritmo de crescimento chileno no mês de outubro foi o mais fraco desde o terremoto que atingiu o país em fevereiro de 2010.

A incerteza em relação à economia mundial afeta os investimentos, segundo o Itaú Unibanco: "A volatilidade da taxa de câmbio e a incerteza internacional costumam ser apontadas como fatores de postergação de investimentos; assim como os altos custos trabalhistas e de energia, restrição à importação de insumos e a dificuldade de encontrar mão de obra qualificada", escreveu o banco em relatório. O Itaú ressalta que o desempenho das vendas varejistas decepcionou em setembro e outubro. Mas houve pequena melhora nos investimentos. As vendas de imóveis residenciais desaceleraram, o setor de commodities deve continuar a se expandir e o mercado de trabalho começa a dar sinais de acomodação.

De julho a setembro a produção industrial teve o seguinte desempenho: 0,3% positivo; 0,1% e 1,9% negativos. No trimestre, a produção de carros encolheu 0,4%; o setor de gás, 1,5%. Mas o que assustou mesmo foi a queda de 15% na produção de aço.

O Instituto Aço Brasil reviu para baixo suas previsões para 2011. O excedente de capacidade de produção de aço em relação à demanda no mundo continua alto — cerca de 500 milhões de toneladas. No Brasil, sobram 20 milhões de toneladas.

— No início do ano, com a expectativa de retomada mais forte das principais economias, a Associação Mundial de Aço previa que o setor no mundo retornaria ao nível pré-crise, de 2007, em 2012. Com o agravamento da crise na Europa, essa previsão ficará adiada por mais dois ou três anos — disse Marco Polo Mello Lopes, presidente-executivo do Instituto Aço Brasil.

Apesar disso, o melhor saldo comercial brasileiro foi o do terceiro trimestre, segundo a AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil). O país teve um superávit de US$ 10 bilhões de julho a setembro.

Levando-se em conta que o país conseguiu manter baixa a taxa de desemprego, a conclusão é que o país teve um bom desempenho. O mundo não ajudou nada.

Pelo contrário. O terremoto do Japão afetou cadeias produtivas importantes, a revolta na África elevou o preço do petróleo, alavancou a incerteza e derrubou a economia americana no início da recuperação. Mas nada foi mais devastador do que a crise da Europa que se arrasta de forma crônica por vários meses produzindo uma sucessão de eventos inesperados.

A crise ainda não está encerrada e o ano ainda promete. A esperança que se tem em relação à Europa é que a situação está tão grave que não pode piorar mais. Na beira do abismo, os grandes países da região vão agir para salvar a moeda do colapso.

Mesmo se agirem, não vão salvar o crescimento europeu de 2012. A região deve continuar em recessão, mas se o mundo puder vislumbrar uma saída o clima pode melhorar.

Se isso acontecer, o Brasil pode ter no ano que vem um desempenho que é o retrato invertido do que houve este ano. Se em 2011 o país começou crescendo fortemente e foi perdendo ritmo, no ano que vem pode fazer o caminho oposto: começar fraco e ir ganhando força ao longo do ano.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Para 59% dos empresários, incerteza econômica impede investimentos
Por Murilo Rodrigues Alves | Valor
BRASÍLIA – A maior parte dos empresários industriais considera a incerteza econômica como a principal dificuldade aos investimentos no país. Pesquisa divulgada há pouco pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que 58,9% dos empresários assinalaram a incerteza como o principal obstáculo, índice muito superior ao registrado em 2010, quando 36,2% disseram a mesma.

No entanto, o percentual de empresários preocupados com o contexto econômico é menor do que o verificado em 2009, ano em que houve os efeitos mais agudos da crise internacional, quando o percentual alcançou 75,3%.

O segundo impedimento mais citado pelos empresários na pesquisa da CNI foi a reavaliação da demanda, com 42,6%, índice também maior do que declarado em 2010, quando menos de 40% dos empresários apontavam a ociosidade elevada como o principal obstáculo aos investimentos produtivos.

Ainda apareceram como razões para não investir o custo do crédito e financiamento (que passou de 26,1% em 2010 para 28,9% neste ano); a dificuldade com burocracia (que teve queda de 31,9% no ano passado para 20,3% em 2011) e a falta de obtenção de mão de obra especializada (problema para 20,3% dos empresários nesta pesquisa ante 15,2% no ano passado).

(Murilo Rodrigues Alves | Valor)

2012 aponta para cenário positivo, diz presidente da Abrasca
01/12/2011

Uma prévia da pesquisa “Cenário 2012” da Abrasca (Associação Brasileira de Companhias Abertas) foi apresentada durante encontro que ocorreu nesta sexta – feira (1) em São Paulo. O levantamento mostra que 52% das empresas entrevistas acreditam que haverá crescimento econômico e 36% apresentam intenção de investimentos em 2012.

De acordo com o presidente da Abrasca, Arthur Alexandre dos Santos Filho, em conversas informais com empresários, estes demonstraram que a queda na taxa básica de juros anunciada esta semana pelo Copom ajudou a reduzir o pânico do mercado e deve estimular entrada de novas empresas nele.

A decisão do governo de reduzir alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de 2% para 0% foi favorável segundo Arthur. “Quando implementado esse imposto, restringiu ação de investidores”. Entre as medidas que a Abrasca contesta junto à Comissão de valores Mobiliários - CVM - é o rodízio obrigatório das auditorias. Para Arthur, existe uma curva de aprendizado dos auditores e uma troca de empresa pode prejudicar os investidores.

Para 2012, o presidente de Abrasca espera um cenário mais positivo para economia e empresa no país.


Por Luisa Pascoareli

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

THE WALL STREET JOURNAL AMERICAS, 01/12/2011
ESTADOS UNIDOS ESTÃO EXPORTANDO MAIS PETRÓLEO QUE IMPORTANDO, PELA PRIMEIRA VEZ EM 62 ANOS

Por LIAM PLEVEN e RUSSELL GOLD
A exportações americanas de gasolina, diesel e outros combustíveis derivados do petróleo estão subindo, colocando os Estados Unidos no caminho de ser um "exportador líquido" de produtos petrolíferos em 2011 pela primeira vez em 62 anos.
Uma combinação da demanda crescente dos mercados emergentes e de uma atividade doméstica hesitante significa que os Estados Unidos estão exportando mais petróleo do que importante, revertendo um comportamento histórico.
Bloomberg News
Uma plataforma de perfuração em Wattford City, no Estado de Dakota do Norte
De acordo com as informações divulgadas pela Administração de Informações de Energia na terça-feira, os EUA enviaram ao exterior 753,4 milhões de barris de todos os tipos de produtos, de gasolina a combustível de avião, nos primeiros nove meses do ano, enquanto importaram 689,4 milhões de barris.
Que os Estados Unidos estejam mandando para fora mais combustível do que importando é um fato significativo, já que o país foi, por décadas, um voraz consumidor de energia. Para ajudar a colocar em funcionamento suas indústrias e carros, obteve, em grandes quantidades, não apenas petróleo bruto do Oriente Médio, mas também combustível refinado da Europa, América Latina e outros lugares.
Em 2005, os EUA importaram quase 900 milhões de barris a mais de petróleo do que exportaram. Desde então, o déficit tem encolhido de maneira estável até que finalmente desapareceu no fim do ano passado, e analistas dizem que o país não perderá seu título de "exportador líquido" tão cedo.
"Parece ser uma tendência com potencial de permanecer para o resto da década", disse Dave Ernsberger, diretor global de petróleo da Platts, que monitora os mercados de energia. "Os EUA são vistos como um buraco negro gigante que suga energia de todo o planeta. Esse novo fato muda essa dinâmica."
Enquanto os EUA se mantiverem como o maior importador líquido de petróleo bruto do mundo, atualmente utilizando nove milhões de barris por dia, não é provável que venham a se tornar independentes em energia num futuro próximo. De qualquer forma, sua presença crescente como um exportador de combustíveis refinados lhe confere maior influência no mercado global de energia.
O crescimento em exportações é parte de uma "transformação do sistema de energia", diz Ed Morse, diretor global de pesquisa de commodity do Citigroup Inc. "São os primeiros sinais de um processo que continuará pela década seguinte, na direção de uma independência energética."
Essa reversão aumenta as chances de os EUA se tornarem um grande provedor de diversos tipos de energia para o restante do mundo, uma posição antes inimaginável. O país já exporta grandes quantidades de carvão, e empresas como a Exxon Móbil Corp. estão executando ou estudando planos de liquefazer as recentes e abundantes reservas de gás natural para enviá-lo ao exterior.
A mudança é uma das demonstrações mais claras da divergência nas rotas seguidas pelas economias dos EUA e de mercados emergentes. Enquanto os EUA lidam com altos índices de desemprego e crescimento moroso, os países emergentes estão crescendo fortemente, dando impulso à demanda por combustível.
O Brasil e o México estiveram entre os principais consumidores das exportações de petróleo dos EUA, de acordo com os dados de setembro, enquanto a Holanda, país que abriga os principais portos europeus, e Cingapura também foram significativos importadores líquidos.